quarta-feira, 14 de abril de 2010

Seiryoku Zen'yo e o aprendizado do Judô

Seiryoku Zen'yo é um dos princípios fundamentais do Judô. Uma simples, porém expressiva e adequada tradução, é “máxima eficiência”. Ou seja, o melhor uso da energia (física e mental) de forma que com o menor dispêndio de energia se consiga a máxima eficiência na ação. Nosso propósito neste post é demonstrar qual a melhor postura do aluno diante do aprendizado das técnicas (waza) de sua atual graduação.

Apenas para registro, outros dois princípios que constituem a base principiológica da ação do judoka são: jita kyoei (mútua prosperidade; mútuo benefício) e ju (princípio da suavidade). Os abordaremos oportunamente.

A estrutura didática do ensino do Judô prevê a divisão dos alunos em graus de aprendizagem representados pela cor de suas faixas. O conjunto das técnicas a serem ensinadas dividem-se em grupos previamente estruturados conforme o grau de complexidade de sua execução, adequando-os ao proporcional desenvolvimento físico e técnico do aluno. A este método chamamos Gokio.

Considerando o projeto pedagógico do ensino do Judô, o aprendizado das técnicas de uma faixa proporcionam ao aluno desenvolvimento físico e técnico, ensejando-lhe força, resistência e coordenação motora necessárias para o aprendizado dos waza das graduações seguintes.

Assim entendido, o melhor uso do tempo e da energia do aluno para que tenha garantido o melhor aprendizado e o máximo desenvolvimento de seu judô implica em sua dedicação intensiva ao aprendizado das técnicas concernentes enquanto na mesma graduação (muito embora também não vá deixar de treiná-las posteriormente). Com isto não só estará desenvolvendo uma base mínima para o desenvolvimento da luta, mas também educando seu corpo para os próximos estágios.

É bom não esquecer que as técnicas, embora ensinadas em dadas graduações, jamais deixarão de ser utilizadas por toda a vida de judoka. Ainda que prefira outras técnicas para utilizar futuramente, mesmo assim os waza fundamentais farão parte de seu “arsenal” para sempre. Não são poucos os campeonatos inclusive mundiais, que são decididos com o uso de técnicas aprendidos na primeira graduação (tais como o soto gari e de ashi barai) aplicadas com talento e maestria adquiridos ao longo do tempo.

Todavia, acreditamos que é também decorrência do mesmo princípio (seiryoku zen'yo) o aprendizado das técnicas não somente em suas formas tradicionais de execução, mas inclusive com variações menos complexas de abordagem.

Para melhor ajuizar sobre isto, faz-se necessário relembrar outra enorme contribuição do shihan Jigoro Kano, fundador do Judô: a divisão didática da execução das técnicas em três estágios, a saber tsukuri (preparo), kuzushi (desequilíbrio), kake (projeção).

As variações que se admitem são exatamente decorrentes da execução em maneira diversa de cada um destes momentos.

Tentar uma nova forma de “entrada” ou preparo (tsukuri), ou efetuar o desequilíbrio em outra direção (kuzushi), por exemplo, são maneiras eficazes de confundir o oponente e conseguir aplicar a técnica “driblando” a defesa do outro competidor.

Agindo desta forma, o aluno poderá aplicar a mesma técnica básica de maneira exitosa e contribuir para o desenvolvimento de suas habilidades individuais.

Deverá o professor, contudo, avaliar em que momento de sua graduação na faixa (conforme o grau - kyu) as variações poderão começar a ser implementadas. E aqui surge a necessidade de apreciação de uma nova variável: o grau de desenvolvimento pessoal de cada aluno.

Não obstante o Gokio se dirija aos alunos como um todo, não podemos desprezar a capacidade individual de cada aluno.

Perceber e desenvolver o waza à maneira de cada aluno, contando com seus dotes naturais ou com a rapidez com que domina as técnicas, constitui-se outra faceta de aplicar-se o seiryoku zen'yo.

Sendo as pessoas diferentes entre si, conforme sua personalidade, constituição física, idade, etc, decerto que o exercício dos waza também sofrerá ligeiras adaptações. Cada aluno encontrará uma forma que segundo sua características individuais melhor lhe aproveitará no uso eficiente das técnicas. Se um é dotado de maior força física, maior altura, maior rapidez, maior elasticidade, etc., poderá escolher não somente técnicas específicas, mas dentro de cada técnica a melhor maneira de fazer valer seus dotes naturais na forma com que as executa. Isto representa, para cada aluno, uma forma específica de melhor aproveitar e utilizar sua energia.

É onde novamente faz-se necessário a presença do professor que com sua experiência ajudará o aluno “encontrar-se” dentro do Judô, proporcionando meios adequados para aprendizado tanto da forma tradicional, quanto da variante que melhor lhe aproveite.

Nossas observações pessoais nos permitem uma visão do Judô onde o tradicional jamais é dispensado, mas admite desenvolvimento e adaptações específicas que garantam ao aluno o melhor aprendizado e aplicação possíveis dos waza sem violação do plano pedagógico do Judô.

Isto é, de fato, seiryoku zen'yo.

Alguns exemplos utilizando o waza o soto gari.



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